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Exclusivo: Entrevistamos Rosinei Campos o Meinha, chefe da Eurofarma-RC

Imagens: Eurofarma RC

A historia de Rosinei Campos, ou simplesmente Meinha, se confunde com a própria historia da Stock Car, não apenas por ser o único a permanecer na Categoria desde seu inicio de forma ininterrupta, mas também pelas conquistas que acompanham esta trajetória, seja como colaborador em outras Equipes, seja como proprietário daquela que esta hoje entra as três maiores forças da Stock Car, a Equipe Eurofarma RC.


Após algumas tentativas consegui encontrá-lo num dia mais calmo para finalmente, por pouco mais de duas preciosas horas, fazer com que o ocupado Meinha sentasse de forma relaxada em seu escritório e conversasse descontraidamente.
Não espere uma entrevista, foi sim uma conversa, em alguns momentos até um debate, em outros uma aula. Historias sobre sua trajetória, sua visão sobre o automobilismo de forma geral, algumas lembranças e um pouco da receita do bem sucedido Rosinei Campos.

Já na chegada o encontrei em sua mesa com o novo regulamento técnico desportivo da Stock Car nas mãos, e a conversa começa aí:

Blog do Regii: Vejo que esta lendo o regulamento da Stock Car, algumas mudanças importantes?

Rosinei Campos: Relendo... Sim, algumas mudanças, no ano passado eram duas corridas, uma mais longa e outra mais curta, agora para este ano são duas corridas iguais com a inversão dos 10 primeiros. E vai mudar o sistema de classificação também, o sistema de classificação vai ser assim, metade do grid serão os carros ímpares, e metade par, de acordo com a posição no campeonato, na primeira prova é de acordo com o final do campeonato de 2016. Os impares serão do grupo 1 e os pares o grupo 2, digamos que tenha 30 carros, saem os quinze carros do grupo 1, todos ao mesmo tempo, por 8 minutos na pista, depois o mesmo acontece com o grupo 2, destes, os quinze primeiros voltam para o Q2 onde os seis melhores colocados passam para o Q3 tendo direito a uma volta lançada cada um, quem largar entre os seis, terá um pneu mais desgastado, e como tem poucos pneus né... Então esta vai ser a regra de classificação.

BR: Agora sobre nossa conversa, eu creio que você seja o único que esta na atual Stock Car desde a primeira corrida, isso confere?

RC: O pessoal tem comentado isso e eu acredito que seja, por que, teve alguns que vieram pouco depois, e na verdade existem algumas pessoas que estavam na época, porem elas saíram por alguma razão e depois voltaram, então na verdade é mais correto dizer que eu estou na Stock Car e não sai dela desde o inicio. Existem algumas pessoas, por exemplo, não sei se você lembra do Mauricio Mattos?

BR: Sim, claro, foi engenheiro do Thiaguinho (Thiago Marques) no título em 2001...

RC: Então, quem levou o Mauricio Mattos pro automobilismo fui eu, mas numa época anterior, tanto que quando ele foi trabalhar comigo, ele era funileiro, ele não era mecânico, é uma pessoa de bastante capacidade, não tem formação acadêmica, mas é o Engenheiro Pratico como a gente fala, na verdade eu mesmo sou Engenheiro Pratico, não sou de formação como o Marcel é de fato, muitos dos que estão na Stock e são chamados de engenheiros não são de formação...


BR: Sua formação é técnica né?

RC: Sim, SENAI e estudei na Escola Técnica também, ingressei na Faculdade no curso de Física, mas não me formei até por questão do próprio automobilismo, eu optei, ou eu fazia uma coisa ou fazia outra, eu não podia me dar ao luxo de estudar e trabalhar, o automobilismo praticamente não permite isso, então optei pelo automobilismo e estou aí até hoje... Então o Mauricio é um que esteve lá no inicio, eu levei ele para São Paulo, acho que no segundo ano que eu estava no automobilismo, eu comecei acho que na metade de 78 e a Stock começou em 79. Comecei com o Raul Boesel, isso foi antes até de 79, era a divisão 1, e em 79 foi lançada a Stock Car, que eram os opalões. E o Mauricio começou comigo em 80, então ele começou um ano depois de mim, mas teve um período em que ele esteve afastado. A mesma coisa é o Washington (Bezerra), ele é mais antigo do que eu no automobilismo, mas ele também teve um período afastado da Stock e depois saiu e não voltou mais, então dos que estavam desde o inicio e nunca saí eu acredito que sou o único mesmo.

BR: E de lá pra cá, é lógico que não temos como mensurar a onde a Stock ainda pode chegar, mas você acredita que a Stock Car alcançou o objetivo que vocês tinham lá atrás quando estavam começando?

RC: Eu acho que alcançou, mas acho que poderia ter evoluído mais, mas claro que com as circunstancias do país, questões econômicas que oscilaram ao longo do tempo. Eu lembro que na época em que eu trabalhava com o Paulo de Tarso, ele fazia três carros, ele corria em um e os outros dois ele quase emprestava pros pilotos correrem só para fazer grid. Nesta época era contratado do Paulo, eu era responsável pela equipe no sentido técnico, fazer os motores, acertar os carros, era assim que eu trabalhava, então tivemos épocas muito difíceis, a Stock tinha poucos carros, pouca visibilidade. A Stock Car cresceu mesmo quando o Col pegou e fez a nova fase, os carros já em chassis tubular, com um só fornecedor de motores, a Stock ficou mais homogênea. Naquela época a dificuldade era que os motores eram os 6 cilindros, preparados por alguns profissionais no Brasil, dentre os quais eu era um, então digamos que tivesse quatro ou cinco preparadores, tinha mais, mas os que tinham mais destaque eram uns quatro, e o que acontecia era que às vezes algum piloto até queria correr na categoria, mas não tinha quem fizesse o motor, ai a gente acabava alugando os motores para outras equipes que não tinham condições de preparar o próprio motor...

BR: Guardadas as proporções era mais ou menos o que acontece na Formula 1 hoje?

RC: Exatamente, guardadas as proporções era isso. Então quando foram construídos os carros com chassi tubular, os motores V8, e era tudo similar para todos, um regulamento um pouco mais travado, isso proporcionou um aumento de equipes e pilotos e as coisas foram se profissionalizando.

BR: Você usou o termo profissionalizar, e hoje realmente é tudo muito organizado e profissional, tudo isso chamou a atenção para a categoria, num país onde o futebol é o primeiro, segundo e terceiro esporte mais visto né?

RC: Sim, e o auge de visibilidade da categoria, eu acredito tenha sido quando a Globo começou a transmitir todas as corridas ao vivo, e o automobilismo precisa de visibilidade, aqui é o país do Futebol, quem vê automobilismo são os apaixonados, e você precisa fazer o algo mais para atrair os que não são. Então ali teve um crescimento muito grande da Stock, mas depois a Globo foi retirando as corridas ao vivo, com isso grandes patrocinadores que apoiavam a categoria acabaram saindo, foi o caso da Nextel, da Caixa, foram perdas importantes e este foi um fator que atrapalhou esse crescimento, e associado a questões econômicas, isso tudo. Diante desta fase, tivemos outros decréscimos, por exemplo, fechamento de autódromos que eram importantes, praças importantes, Jacarepaguá, Brasília, Campo Grande que tem uma pista, mas não tem manutenção, então você vai fazer uma corrida lá e o asfalto tá deteriorado, a estrutura em si até dá, o problema é que não tem um asfalto bom. Claro tem também os autódromos que surgiram depois como o Velopark e recentemente Curvelo, então isso tudo da uma atrapalhada no negocio, mas no atual momento da Stock Car, com todos os problemas financeiros do país, veja, no final do ano tinha gente achando que a Stock Car esse ano só teria vinte e quatro carros, e já esta contabilizado praticamente trinta carros...

BR: É uma categoria que chegou num nível em que ela já se mantém...

RC: Ela se mantém, e tem também a questão das mexidas que quase todo ano tem e que, esse ano, acho que é o que teve mais mexidas, teve mudança de pilotos, patrocinadores, isso tudo da um animo novo, uma expectativa nova para todos, novas esperanças, isso tudo são fatores para ajudar a levantar a Stock.

BR: E esta sua parceria com a Eurofarma, já tem mais de dez anos né?

RC: Treze anos...

BR: Isso permite, acredito, que você consiga se planejar um pouco melhor, ou até com antecedência, pois esta é uma parceria solida já?

RC: Sim, embora nosso contrato com a Eurofarma seja anual, a gente vem renovando desde o inicio que foi lá em2004, a gente vem renovando ano a ano e com certeza é um fator de estabilidade que permite a gente manter a estrutura, melhorar, manter os funcionários e poder investir, se você fica muito instável, é difícil fazer investimentos sem segurança.

BR: Este ano a Eurofarma-RC terá três carros com a chegada do Daniel Serra, mas a Equipe terá quatro carros, ou seja, quatro pilotos querendo vencer, dois patrocinadores querendo aparecer, como administrar tudo isso? 

RC: É tudo uma questão de trabalho profissional e aberto, a questão de você ter duas equipes juntas, não é a primeira vez que faço e não somos os únicos a fazer, isso acontece na Equipe do Andreas, na Equipe do Mauricio, inclusive a Full Time nesse ano terá três equipes, em parcerias, geralmente o que se encontra de evolução nos carros isso é dividido, e quando chega na pista cada equipe técnica trabalha com seu piloto, o que existe entre as equipes técnicas é uma troca de informação do que foi feito e deu resultado, mas de repente o que deu resultado para um piloto não de para outro. Então oficina é uma coisa e pista é outra.

BR: Eu sempre achei que tivesse mais conflito entre pilotos, não no seu caso, em que o Max (Wilson) e o Ricardinho (Ricardo Mauricio) são amigos...

RC: Veja, piloto, o primeiro adversário é sempre o companheiro de equipe, você está nesse meio você sabe, e aqui não é diferente, e é mais ainda quando são patrocinadores diferentes, cada um busca seus interesses, sua renovação, e a nossa parte aqui é profissional, por que nos temos condições de fazer os carros nas mesmas condições técnicas e o patrocinador entende que mesmo tendo a equipe concorrente do lado, ele vê que é saudável. E existe a contrapartida também, se você tem dois carros numa equipe, você só tem dois carros para se basear, se você tem quatro carros, você tem mais informações, para colher os dados e chegar a conclusões. De novo, não que você vá copiar o carro do outro, às vezes o que esta funcionando bem em um carro não funcione bem com o do outro piloto, mas você já tem uma direção pra se basear.

BR: Voltando um pouquinho ao passado. Você trabalhou um bom tempo na Action Power e por lá foram quantos títulos?

RC: Acho que três, tivemos com o Ingo (Hoffmann), acho que em 96,97 e 98 se não me engano.

BR: E nestes 36 anos de Stock Car somam quantos, com Pilotos?

RC: Aí foram nove. Tem dois jeitos de eu analisar, por que, como você sabe, eu trabalhei anos contratado, então eu não era o dono da equipe, eu era o engenheiro do carro, então eu tive um titulo em 86 com o Marcos, e não era minha a equipe, aí tive estes com a Action Power, e quando eu montei minha própria estrutura, isso foi em 99 pra 2000, foi uma transição, por que eu sai do Paulo (de Tarso) e vim pra cá, mas a gente ficou uma temporada inteira num processo de transição entre o que era a Equipe RC e o que era a Action Power, então a RC Competições começou mesmo em 2000. Então de lá pra cá nos ganhamos estes títulos que são daqui e somando todos da os nove. Sem contar os vices e terceiros que foram bastante.

BR: Você consegue colocar uma ordem de importância, pegando só os daqui? Exemplo, teve o campeonato do Max (Wilson), a ultima corrida numa chuva tremenda e ele ganhou por 1 pontinho apenas aquele campeonato.

RC: É tem estas peculiaridades, eu não lembro todos em detalhes, mas agora você falando, todos são importantes, mas essa do Max com certeza foi muito importante pelas condições da corrida, ele naquele dia vinha sem enxergar absolutamente nada, e eu falava não para, não para.

BR: Durante estes 35 anos, pode se dizer que você viveu de automobilismo? Esta estrutura que hoje você alcançou, é fruto do seu trabalho dentro do automobilismo?

RC: Sim, do automobilismo, eu tive negócios pessoais que vieram do automobilismo, investimentos em outros negócios, mas os recursos sempre vieram do automobilismo...

BR: Minha pergunta é por que muitas vezes o que acontece é o contrario, a pessoa tem outros negócios e muitas vezes injetam dinheiro pra manter a paixão pelo automobilismo...

RC: Sim, no meu caso, o que eu tenho, eu credito ao automobilismo, claro, tem a minha esposa que tinha o trabalho dela, tinha os rendimentos dela, e isso no fim também contribuiu com o todo, tanto que hoje ela é administradora financeira e contábil da empresa. Então isso tudo contribuiu, mas eu posso dizer que eu sou um profissional do automobilismo e que tudo que eu tenho veio do automobilismo e que desde o ano 2000 muitas famílias vivem deste negocio, ou seja, tiram seu sustento daqui, e o que é isto aqui? É automobilismo profissional.

BR: Mas por outro lado, muitos já perderam verdadeiros patrimônios no automobilismo, concorda?

RC: Muitas pessoas entram no automobilismo, ou por curiosidade, por gostar, existem muitos que trabalha com o automobilismo e penam, a gente não pode ser hipócrita de achar que não é assim, há sempre aquela esperança de que vai melhorar, que vai vir um patrocinador mais forte e que vai ganhar dinheiro, é difícil falar pelos outros, eu nem tenho esse direito, mas a gente vê muita gente correndo muito risco, pra ganhar pouco diante do risco que corre, por que, quando você tem vários funcionários viajando, você tem que ter mente de que é um risco grande, e é importante que as pessoas entendam isso. É como dizia o Xandy Negrão; “Vocês só veem a pinga que eu tomo, mas não vê os tombos que eu levo”. Eu agradeço muito a Deus por ele ter me dado a condição, de ter me dado um dom, de eu poder estar no automobilismo e estar produzindo até hoje, estou perto de completar quarenta anos de automobilismo e hoje eu posso dizer que tenho uma carreira de sucesso, profissional, financeiro, por que a gente conseguiu fazer isso aqui ser um negocio profissional, e não são tantos no Brasil que conseguem.

BR: E o caminho para se profissionalizar, imagino eu, seja o investimento, por que por outro lado a gente sabe também que a partir do momento que você consegue captar, não vou entrar em detalhes, mas acredito aí que uns 4 milhões pra fazer dois carros, não vencedores, medianos, a partir do momento que você dispõe desse recurso você tem que usar todo esse recurso na equipe, técnicos, equipamentos até mesmo estrutura física. Certo?

RC: Você tem que medir bem, boa parte do que seria a lucratividade, ai já entra no campo de, como se administra a parte financeira da equipe, você tem que analisar uma porção de coisas por que o que sobra não é necessariamente o lucro, você tem que pensar que você tem um passivo, pensar que você tem que reinvestir, renovar. Por exemplo, você lembra que aqui nos tínhamos um barracão, hoje temos dois, a gente fez por bonito? Não, a gente fez para poder ter mais espaço para trabalhar, e isso aqui o patrocinador vê que você está a cada ano melhorando sua estrutura. O ano passado a gente trocou as duas carretas baú, compramos duas novas, tínhamos duas vans para transporte do pessoal, trocamos por duas novas, investimos em um dinamômetro de rolo, você tem que estar renovando os carros, renovando peças, você tem que estar pronto para eventuais emergências. Um cambio de Stock Car, por exemplo, custa 75 mil dólares, a gente faz as manutenções, mas não esta livre dele quebrar, e se ele quebra como é que você repõe se você não tem esta reserva?

BR: É um esporte, mas que deve ser pensado como um negócio...

RC: Isso mesmo, outra coisa, e se amanhã decidem que não vai mais ser este carro? Vai ser outro modelo, vai custar 400 ou 500 Mil, aí você multiplica por quatro, de onde vem o dinheiro? Agora o fator mais importante é você ser competitivo, se você não for competitivo, você perde o patrocinador, e isso pode te inviabilizar, como já aconteceu com algumas equipes.

BR: Trazendo a conversa pra fora da Stock Car, pro automobilismo em geral, esquecendo que você tem um excelente parceiro que é a Eurofarma, a captação de patrocínio é muito difícil, e na minha opinião, um complicador para isso é a própria lei de incentivo do governo, que autoriza que 1% do imposto de renda devido seja destinado à patrocínio ao esporte, mas se você considerar que uma temporada para um piloto ou equipe, um carro apenas, custa sei lá 3 Milhões, imagine o quanto esta empresa teria de faturar, é fora da realidade. Obvio que tem aqueles empresários que gostam do esporte, se dispõe a ajudar o esporte, um exemplo é o próprio João Adibe da Cimed, a própria Eurofarma, mas são poucas. O que você acha que poderia ser feito pra melhorar nesta questão?

RC: Bom, com relação a Eurofarma, nosso acordo independe deles se utilizarem ou não desta lei, o que teria que se tentar era aprovar alguma lei um pouco menos burocrática e um pouco mais atrativa para as empresas, por que se a empresa consegue reverter uma valor que ela vai ter que pagar de qualquer forma, é altamente interessante para a empresa e para o esporte, a Empresa estaria arcando com um custo que ela teria de qualquer forma, porem em alguns casos, como é o automobilismo, teria ainda um retorno de visibilidade num evento como é a Stock Car, poderia quem sabe melhorar esse percentual que pode ser revertido, por que de qualquer forma esta verba a empresa vai ter que pagar, e na verdade é o governo que deixara de receber, mas estará fomentando um negocio onde vai gerar outras rendas sobre as quais o governo ira receber, ou seja, acho que talvez o caminho fosse o governo abrir mão de um percentual um pouco maior, mas que em contrapartida estará criando mais emprego e renda.

BR: A lei não é de todo ruim, porem ela própria cria algumas limitações, por exemplo, da forma que é, hoje ela beneficia os atletas, em outras modalidades de esporte até tudo bem, mas no caso do automobilismo talvez devesse se estender às equipes, pois tudo gira em torno das equipes...

RC: Isso para viabilizar a participação do piloto, mas o valor será repassado para a equipe, até por que sem a estrutura sem os carros não tem como correr, o piloto ele é uma parte muito importante, como as outras. O piloto ele tem que ter as “armas”, tem que ter estrutura, praticamente hoje, 99% dos pilotos chegam na pista com seus equipamentos pessoais, macacão, capacete e o carro já esta lá pronto, com toda a estrutura montada, mas para você chegar com tudo que esta aqui dentro, por exemplo, em Goiânia, 1300 km de distancia, pra você levar tudo, deixar os carros lá bonitinhos, limpos e polidos esperando o piloto pra andar, com todo o pessoal lá a postos não é fácil. Já ouve outras épocas e eu participei, onde o cara fazia o carro numa oficina pequena, misturado com os carros de rua, quando tinha uma corrida, colocava o carro em cima de um caminhão de carroceria, cobria com uma lona, uma caixa de ferramentas daquelas pequenas, uma meia dúzia de pneus e ia pra corrida...

BR: Isso quando não ia com o carro rodando né?  O Paulo (de Tarso) conta que ia correr em Cascavel de Chevette e os pilotos iam com o próprio carro de corrida...

RC: Sim, eu participei disso, eu cheguei a fazer algumas corridas com o Paulo inclusive. E realmente tinha cara que acabava de mexer no motor e ia amaciando na estrada, hoje parece loucura, um carro de corrida andando na estrada, apagava os faróis pra passar nos postos de guarda, mas a época permitia estas loucuras, corria o risco de quebrar o carro antes mesmo de chegar na pista. Enfim, hoje não, hoje é profissional, como você esta vendo, e é assim em muitas equipes.

BR: E ai já entra numa outra questão, que a Stock Car hoje é profissional ao extremo, tão profissional, e o automobilismo mundial passou a ser tão difícil, que um menino antigamente saía do Kart, e seguia uma trilha onde o objetivo final era a Formula 1, só que cada vez mais o funil não só da Formula 1, como outros campeonatos de Turismo Mundial, esse funil esta cada vez mais apertado. A nível de Brasil, a Stock Car e até um tempo atrás a Formula Truck, passou a ser também o objetivo destes meninos, o Evento da Stock Car se tornou uma coisa tão profissional que estes pilotos passaram a ter como objetivo a categoria. Daí minha pergunta, esquecendo que hoje você é chefe de uma Equipe de Stock Car, sabendo que não tem espaço para estes pilotos que estão chegando, existem centenas de pilotos no Kart e somadas todas as vagas das categorias onde se pode correr profissionalmente devemos chegar a umas 60 vagas e estas já ocupadas. O que poderia ser feito para que estes pilotos que chegam pudessem ter seu espaço, sem é claro, prejudicar os pilotos que aí estão, e pilotos famosos, que nem vou citar nome, que agregam ao evento e as equipes onde estão, se falar só da sua, temos o Max (Wilson), o Ricardinho (Ricardo Mauricio) e o Serra (Daniel). A Stock tem um grid linear, onde quase vinte pilotos ali têm cadeira cativa e dali não saem. O que poderia ser feito pra arrumar lugar para estes meninos, se não eles vão estar com quarenta anos e andando de Kart por não ter onde andar?

RC: Categoria de acesso até existe, que é o Brasileiro de Turismo, mas o grande problema é que o automobilismo, ele não é como o futebol, que você só precisa de uma bola, pra demonstrar tua capacidade você precisa de dinheiro, este a meu ver é um ponto crucial, não existe como praticar automobilismo sem dinheiro, ou você tem o pai-trocinio, ou o pai do piloto, a família do piloto tem alguma influencia com uma empresa e alguém aposte nele. Em outros esportes se a pessoa tem potencial ela tem como demonstrar isso. Por exemplo, na Formula 1 ninguém chega mais só com o talento, mas consegue se chegar com menos talento e uma boa quantidade de dinheiro, como o caso deste novo piloto da Williams, que nestes primeiros treinos esteve bem aquém do que se espera de um piloto que chega a Formula 1. Hoje o ideal é a pessoa ter talento e ainda ter dinheiro suficiente pra bancar ele até chegar la...

BR: Mas vamos fazer uma conjectura aqui baseada em dois fatos; Primeiro essa quantidade imensa de nomes aqui que se a gente começar a falar nomes que estão ai espalhados pelo mundo, os que estão chegando às portas da Formula 1 novamente e que podem, a exemplo do que aconteceu com o Felipe Nasr, ter que voltar, somado aos nomes de pilotos tops de um outro campeonato que é a F-Truck e que hoje é uma incógnita, será que não teria já espaço para uma outra categoria top no automobilismo brasileiro, como é a Stock Car?

RC: Mais uma categoria eu não sei se seria a melhor coisa, claro que eu estou olhando pelo meu umbigo né, mas talvez, seria o caso de fortalecer a própria Stock Car, ampliar o grid...

BR: Mas mesmo assim um grid, mesmo na Stock Car tem um limite máximo de carros...

RC: E tem um detalhe, ai tem os pilotos novos que é o que você estava falando, eles não estão mais vislumbrando a Europa, eles estão visualizando a Stock...

BR: Sim, para você entender, até esta matéria que gerou toda uma discussão com todos estes nomes que eu te falei, entre eles o Dadai, novo presidente da CBA, e ele falou do envolvimento da Confederação com o Kart, apoio ao Kartismo, criação de escolas, premiações e muitas coisas que ajudam e muito e farão com que o Kart se fortaleça e aumente ainda mais o numero de praticantes. O número de praticantes do Kart hoje já é quase incontável, pulando para um próximo degrau, falando de Formula, existem categorias como Formula Vee, Formula Inter e Formula 3, se for falar de Turismo tem a Sprint Race e Regionais de Marcas e para por aí. Então a gente tem um universo de quinhentos atletas vindo para disputar uma vaga em uma categoria top, dentro do Brasil que seria trinta Vagas na Stock Car e Vinte da Truck, com os rumos indefinidos da Formula Truck, hoje a gente tem quinhentos para disputar trinta vagas, não existe vazão para tudo isso. Ou seja, centenas de pilotos preparados pra chegar à lugar algum.

RC: É e não são trinta vagas, por que tem pilotos da Stock Car que não vão sair dali pra dar vaga para quem chega, e porque não sai? Por que tem patrocinadores, qualquer um destes grandes aí, que para colocar investimento, eles vão procurar a melhor equipe que eles conseguirem e eles vão exigir os melhores pilotos que eles conseguirem, estes acabam sendo os mais valorizados e dificilmente eles vão chegar pra você e falar que não quer o Átila (Abreu), não que o Cacá (Bueno) ou o Rubens (Barrichello) e dizer que vão apostar num menino novo, isso é natural. Agora, talvez a gente possa fazer um paralelo sobre a questão da Nascar, nesta questão inclusive, muito se discutiu no passado sobre como criar ídolos. Por exemplo, eu estou todo esse tempo no automobilismo, gosto de automobilismo, mas ligo a minha televisão e vejo uma corrida lá da Europa onde eu não conheço os pilotos eu mudo de canal. Com o publico é a mesma coisa. Há uma necessidade de criar ídolos como é na Nascar, e talvez nem seja o caso de criar outra categoria, mas subdivisões como é na Nascar. E no caso de criar outra categoria como é a Stock Car, esta categoria teria de ter a mesma visibilidade que a Stock Car tem hoje, e ter pilotos de renome é importante para ter esta visibilidade, volta no que falamos anteriormente, os grandes pilotos sempre terão a preferência dos grandes patrocinadores.

BR: Realmente. Voltando à sua trajetória, o Rosinei Campos, que começou lá em meados de 78, para o Rosinei Campos que agora inicia a sua trigésima sexta temporada, se realizou no automobilismo? Já chegou onde queria?

RC: Claro que sim, eu me sinto realizado, não sei mais quantos anos eu vou estar por aqui, por que o futuro a Deus pertence, mas o objetivo é continuar dando retorno aos patrocinadores, ao investimento que eles fazem. O Marcel, que é a minha continuidade, as pessoas que trabalham aqui, a gente ta trabalhando pra melhorar cada vez mais, então eu posso dizer que eu me realisei, mas a gente sempre quer mais, eu tive as minhas vitorias, mas também as que eu perdi, e é claro que eu gostaria de ter ganhado tudo, mas eu agradeço a Deus pelo que nós conquistamos como equipe, como família, mas a gente está na luta para conseguir mais, hoje tenho muito mais experiência e a cada ano mais, e a ansiedade de chegar lá, a vontade de ganhar é a mesmo de quando eu comecei. Eu não gosto de perder, mas sei reconhecer que mais uma vez, nós não vamos lutar contra nenhum morto, nos vamos lutar com quem está com a mesma garra, mesma vontade, que tem a tecnologia tanto quanto a gente, buscam apoio fora, com engenheiros assim como nos também buscamos. Então o campeonato é sempre uma incógnita e não da para dizer que têm favoritos, tem aqueles que você imagina que vão brigar pra vencer, só de pilotos em condição de brigar pelo título são no mínimo dez, só aqui dentro tem no mínimo três, Max, Ricardinho e o Serra, aí você pega a Cimed com o Marquinhos e o Fraga, o Cacá, aí tem o Átila, Zonta, Barrichello, Khodair, e se a gente ficar falando nomes nos vamos ser injustos com alguém, tem o Julinho (Campos), Pizzonia, Thiago Camilo é muita gente em condições e equipes competentíssimas.

BR: Por ultimo uma curiosidade minha, quando eu cheguei aqui você estava relendo o regulamento, você está sempre ocupado, já tentei outras vezes esta conversa e nunca deu certo e sei o quanto você é ocupado e focado, daí minha curiosidade, o que o Meinha faz para relaxar, ou como aparenta pra mim, você nunca desliga?

RC: Não, eu tenho sim meus momentos mais relaxados, os momento de pré-temporada como agora, pré corrida eu fico mais tenso, durante o final de semana de corrida eu durmo pouco, sinto angustia, tenho que tomar remédio pro estomago por causa disso, é tensão, mas é uma coisa que eu tenho convicção disso. Mas eu tenho meus momentos de desligar de tudo, quando eu posso vou para a praia, relaxo, quando da para ir pra fora viajar eu também faço. Mas tensão dos dias próximos da corrida existe sim e a gente só se encontra nestes momentos também e talvez por isso passe esta impressão, mas eu às vezes desligo sim.


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